Nos últimos anos, dois temas se tornaram recorrentes nas muitas discussões sobre impacto ambiental e qual o papel das empresas neste contexto: sustentabilidade e regeneração. Pesquisas e relatórios recentes têm destacado a importância de integrar práticas sustentáveis nas operações corporativas para além da ética, destacando também que integrar práticas sustentáveis ao ambiente corporativo pode impulsionar o desempenho organizacional.
Talvez o material mais significativo nesse âmbito seja o Relatório Ambição 2030, do Pacto Global da ONU, estratégia originalmente lançada em 2022. O documento traz diretrizes claras para as empresas que desejam adotar práticas regenerativas alinhadas com os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – que englobam não apenas questões ambientais, mas também de inclusão e equidade de gênero -, além de abordar as regulamentações futuras que poderão influenciar esse processo.
Ainda nesse âmbito, algumas semanas atrás, aconteceu, em Nova Iorque, a Climate Week, cujos principais objetivos foram acelerar a ação climática global e destacar a necessidade de triplicar a capacidade de energias renováveis e dobrar a eficiência energética. Em especial, a Missão 2025, debatida no evento, propôs alinhar os planos climáticos nacionais com o Acordo de Paris para limitar o aquecimento global a 1,5°C, incentivando governos e empresas a adotarem metas mais ambiciosas de redução de emissões de gases estufa até 2025.
“Antes de mais nada, é preciso entender a diferença, não de forma complexa, mas bem simples, entre sustentabilidade e regeneração. No meu entendimento, ser sustentável é a forma como escolhemos agir, abordando o mundo por meio da nossa atitude perante a sociedade e o planeta, como se ‘zerássemos’ a conta com o meio ambiente”, explica Luciana Lancerotti, ex-CMO da Microsoft e fundadora e CEO da Gestão e Design de Impacto.
“No entanto, a sustentabilidade se refere à capacidade de atender às necessidades do presente, do agora. É quase como o que chamamos de ‘net zero’, que é sempre fazer a equação ficar equilibrada, de forma que isso não afete as futuras gerações. Por outro lado, quando falamos de regeneração, ela vai um passo além, que é buscar restaurar e recuperar tudo aquilo que já danificamos”, complementa.
“O óbvio ainda precisa ser dito”, afirma Luciana
A Designer de Impacto chama a atenção para o Dia da Sobrecarga da Terra, que aconteceu no dia 1 de agosto deste ano. Nesse dia, a humanidade esgotou os recursos naturais que o planeta pode regenerar em um ano, um momento em que começamos a consumir mais do que o planeta pode nos oferecer para a sobrevivência da humanidade.
“O óbvio ainda precisa ser dito, uma vez que nós, como sociedade, ainda estamos aprendendo sobre esse processo de ter uma vida mais saudável e sustentável, além de começarmos a pensar nesse saldo positivo que precisamos devolver para a sociedade e para o planeta. Acredito que a primeira forma de fazer isso é exatamente trazer consciência; essa parte mais educacional é fundamental para explicar às pessoas o que é e, depois, trabalhar em partes práticas”, afirma ela.
Abaixo, Luciana destaca cinco passos que podem se tornar a virada de chave para empresas se tornarem mais sustentáveis; confira:
1. Avaliação e análise de impacto: “Convido as empresas a avaliarem de forma crítica o impacto de suas operações. Precisamos perguntar: como podemos reduzir o uso de recursos naturais e reaproveitar o que já temos? A análise detalhada nos permite identificar áreas nas quais podemos fazer a diferença imediata e com redesenho de novos processos de curto prazo”, começa.
2. Estabelecimento de metas claras: “É essencial que as empresas definam metas claras e ambiciosas para a redução de desperdício e uso de recursos. Pense em objetivos que transformem lixo em matéria-prima – é um desafio, claro, mas também uma oportunidade de buscar a inovação. Inclusive, existem empresas especializadas neste processo circular”, ensina.
3. Adoção de práticas inovativas e regenerativas: “Inovar significa olhar para o que consideramos ‘lixo’ e encontrar maneiras criativas de transformá-lo. Projetos que transformam plástico em tijolos ou matéria-prima para novas bolsas são exemplos brilhantes de como a criatividade humana pode ser aplicada na sustentabilidade”, exemplifica.
4. Engaje a equipe e stakeholders: “É importantíssimo que toda a equipe esteja engajada nesse processo criativo. Encoraje a colaboração entre departamentos, permitindo que as ideias fluam. A capacidade criativa do ser humano, quando estimulada, pode levar a soluções surpreendentes para a gestão de resíduos e retorno financeiros positivos”, pontua.
5. Pratique transparência e comunicação: “Comunique seus progressos de maneira transparente. Compartilhar histórias reais sobre como sua empresa transforma lixo em novos produtos pode inspirar tanto os colaboradores quanto outras organizações a seguirem esse mesmo caminho. Um diálogo aberto certamente contribui para a construção de uma rede de inovação”, conclui.
“Acredito que essa capacidade criativa que temos como seres humanos é algo que precisamos levar para dentro das empresas e pensar: há muito lixo produzido, e todo esse lixo pode, sim, virar matéria-prima. As áreas de desenvolvimento, com a potência criativa do ser humano, acredito que sejam o caminho correto para começar o processo de regeneração”, finaliza Luciana.