IA ganha protagonismo na transformação do varejo nacional

Gigantes do varejo revelam como dados e IA estão mudando a lógica da decisão de compra

Conversa teve apresentação do jornalista Cléber Rodrigues e reuniu os executivos Flávia Barros, Fábio Faccio e Victor Popper durante o último dia do Web Summit Rio 2025

Durante o painel que teve como tema ”Os dados no centro da estratégia do e-commerce moderno”, realizado no encerramento do Web Summit Rio 2025, líderes de grandes empresas do varejo nacional discutiram como o uso estratégico dos dados está redefinindo a forma como marcas se relacionam com seus consumidores.

A conversa reuniu Flávia Barros, CMO da Leroy Merlin Brasil, Fábio Faccio, CEO da Lojas Renner, e Victor Popper, CEO da Loja Integrada e idealizador da comunidade Brasa Agents, lançada também no Web Summit Rio 2025.

Victor Popper defendeu que a inteligência artificial democratizou o acesso à tecnologia de ponta, permitindo que mesmo pequenos empreendedores possam criar negócios relevantes a partir de dados simples. “A inteligência artificial mudou tudo. Hoje, com quatro clientes, você já tem dados. Usa Excel, Word, qualquer coisa e integra com IA. O que a empresa não pode fazer é achar que precisa de uma super infraestrutura para começar. Você pega qualquer ideia que tiver, abre o GPT gratuito, escreve, e em cinco minutos ela está pronta”, afirmou. Para ele, a personalização radical é o caminho: “Se você entende essa lógica, você vende qualquer coisa. Quem souber mais sobre o cliente, vai entregar mais valor.”

Flávia Barros trouxe um exemplo prático de como os dados ajudaram a aumentar a efetividade de campanhas na Leroy Merlin.

“Temos uma base de fidelidade com 8 milhões de clientes e uma parcela significativa com cashback parado. Criamos audiências específicas para alcançar essas pessoas e otimizamos as campanhas com consistência em todos os canais. Isso gerou uma melhoria de 26% nos resultados. O segredo está na simplicidade e na integração”, disse.

Ela também reforçou que os dados comportamentais revelam motivações emocionais profundas: “O brasileiro associa reforma da casa com melhoria de vida, mesmo tendo medo da dor de reformar. Isso traz emoção, e os dados ajudam a entender isso.”

Já Fábio Faccio trouxe um olhar sobre os desafios de lidar com bases de dados complexas no varejo de moda. Para ele, o trabalho com inteligência artificial vai além do relacionamento com o cliente e exige organização profunda dos dados de produto.

“Outro desafio é higienizar essa base de dados. Acho que não se trata apenas de dados de clientes, o que aparece mais é o contato com o cliente, mas temos também os dados dos produtos. No nosso caso, é um pouco diferente: cada produto deriva em variações de tamanho, cor e várias outras características. Como trabalhamos com moda, para fazermos projeções de venda por produto, tamanho ou cor, e sabermos que tipo de produto oferecer para cada tipo de cliente, é essencial conhecer as características principais de cada item. Caso contrário, acabamos errando mais do que acertando. Por isso, tratar bem essa base de dados e entender quais são as principais características de cada produto, e como montar isso de acordo com o setor, é fundamental. A partir daí, conseguimos cruzar com os dados dos clientes e gerar recomendações mais precisas”, afirmou.

A conversa terminou com uma provocação de Victor Popper sobre o novo perfil das equipes e a urgência de adaptação num cenário dominado pela inteligência artificial. Para ele, não se trata apenas de usar novas ferramentas, mas de adotar uma mentalidade radicalmente diferente, onde a velocidade de aprendizado e a capacidade de experimentação se tornam essenciais.

A IA, segundo Victor, já mudou completamente a lógica do conhecimento, e quem não acompanhar essa transformação ficará para trás.

“Hoje um estagiário, com as ferramentas certas, consegue fazer tudo. O que eu faria? Recrutaria pessoas que são obcecadas por IA e enxergam nela uma revolução. ”, conclui Popper.